sexta-feira, 26 de abril de 2013

Alzheimer

Olá, eu sei que não te lembrarás de mim, mas eu nunca te esquecerei. Independentemente de te relembrares um dia ou não, eu sou a tua filha, aquela menina que te faz o almoço e o jantar todos os dias, que te dá um beijinho sempre que vais dormir, que te ajuda a encontrar as coisas que não te lembras onde se encontram. E por muito que doa saber que nunca te lembrarás daquilo que eu faço ou deixo de fazer por ti, eu continuarei até ao fim dos teus dias, a tratar-te como soubesses que és minha mãe. Prometo nunca desistir de te ajudar, independentemente de não te lembrares sequer do meu nome. Mas eu sei que a culpa não é tua, a tua doença simplesmente não permite que me ames porque nem disso te consegues lembrar. Eu lembro-me de tudo, lembro-me de ser pequenina e à noite vermos as estrelas tentando perceber se alguém as desenhou ou se simplesmente aconteceram, lembro-me de quando ia dormir e ficavas sempre comigo até eu adormecer, de quando ficávamos até tarde a falar de todos os meus problemas da escola ...
  Eu sei que esses momentos nunca voltaram, porque tu, a minha mãe, não te lembras do meu nome nem o consegues escrever, do meu aniversário, ou da data em que me caiu o primeiro dente . Vais esquecer tudo, e não há cura, até de mim. Quando o dia em que tu me perguntares 'quem és?' eu vou só tentar não chorar e  abraçar-te. E mesmo que não te lembres, eu amo-te mãe.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Adeus, coração

  Imagina o que seria viver sem um coração.
  Agora não sinto mais, a dor desvaneceu-se num vazio eterno, jamais haverá outro sinal dela. Também não tenho o poder de amar, poder? ou defeito? afinal amar é sinónimo de dor, de esforço, de desilusão e ilusão. Mas agora não sinto mais isso, agora acabou. Acabou o sofrimento, acabou o amor. Também não poderei ser feliz, neste momento não sei e jamais saberei distinguir tristeza de qualquer outro sentimento que nunca tive oportunidade de conhecer. Agora os papéis inverteram-se agora é o mundo que me inveja e não eu , porque eu jamais serei como eles, jamais sentirei o mesmo. Mas os meus lábios ficam sem efeito se não me sei expressar, agora não preciso de um sorriso, não preciso de esconder o que sinto por de traz dessa mesma expressão tão falsa, porque eu não sinto. Não choro, não me importo, não me magoou, não penso, não vivo. Chega de sofrer coração, vamos para um sitio melhor onde são todos iguais a nós.

domingo, 14 de abril de 2013

Melancolia


Noites mal dormidas, criaturas monstruosas a passear-se pela minha mente e assombração, é o que me resta desde que partis-te. Consigo ouvir todas a palavras bonitas que me costumavas dizer. As palavras feias tornam-se não só bonitas como lindas. A inocente menina que conhecias torna-se cada vez mais forte, mais guerreira, mais triste. Metade de mim morreu, a outra luta para a reanimar, mas já não há esperança, a tua partida levou tudo, de que melhor havia em mim. Agora sou apenas um peso sobre a terra. Oiço a tua respiração, sei que estás aí, aliás, sei que estarás. 'Já viste, numa tarde de Outono, cair as folhas mortas? Assim caem todos os dias as almas na eternidade. Um dia, a folha caída foste tu . Mas está tudo bem, aqui neste recanto, onde te escrevo estas mil e uma cartas confortantes, as quais nunca irás ler. E com as criaturas místicas do fundo da escuridão nocturna fico a escrever-te, a dedicar-te cada palavra, cada sentimento transcrito parágrafo a parágrafo, cada lágrima que jamais chorarás, cada sorriso que jamais terás, cada carta que nunca alcançarás, na esperança que as sintas . Tua, jane*

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Medo

Quem nunca ? Quem nunca ansiou um acontecimento inserto ? Essa dor miudinha de que todos conhecemos, mesmo sem porquês, as histórias constroem-se e constroem-se até a dor ser maior que a razão, isso é medo. Pode ser medo de coisas sem fim, medo de perder, de magoar, de amar, medos de todas as cores, tamanhos e feitios. Mas a definição permanecerá sempre, ansiedade, dor e insegurança não importa a cor, o tamanho ou mesmo o feitio. É considerado um monstro, pior que aquele grupo de criaturas aterrorizantes as quais damos o nome de humanidade. O medo é capaz de dominar qualquer alma, qualquer corpo. Capaz de mover meio mundo em função das tais inseguranças, de tal ansiedade e de tal dor. Considerada deveras aterrorizante, o medo é a dor mais silenciosa de quem vive.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Morte

Olá, porque me temes? A verdade é que sou a tua 2º sombra, as crianças adoram brincar com as suas sombras, eu posso acabar com tudo o que te faz feliz, tudo o que te faz triste e levar-te ao desconhecido que raros são quem desconhecem. Eu posso destruir-te, e destruir a vida de todos os que te amam. Só precisas de estar vivo para eu te apagar, como uma palavra solta num livro esquecido. Mas há quem me deseje, há quem se entregue a mim, há quem confie no meu poder. Dispenso visitas mas tenho milhares por minuto, terei eu assim tanta culpa? Eu não gosto do que faço, não gosto de vos perseguir, mas é o meu trabalho! Odeias-me mas eu serei a única que já mais te abandonará.